Hoje o dia representa a morte e o renascimento em simultâneo, a luz e a sombra, o medo e a coragem, o belo e o feio. É a altura do ano em que podemos repensar a forma como vivemos estes meses de calor, de luz, de sol, de rua, de convívio de entrega de energia e como nos queremos preparar-nos para a sombra, a noite, o frio, a chuva e o recolhimento.
Relativamente às relações, talvez esta época seja também de reflexão sobre quem nos amou, quem nos abandonou, quem nos odiou e quem nos ajudou. E de perguntas: como eu encaro essas situações hoje? O que quero guardar no meu coração, o que quero entregar para a transmutação? O que me perdoou, o que ainda condeno em mim? A quem quero pedir desculpa e dizer amo-te, de quem gostaríamos de ouvir desculpa e amo-te? Quem nos deve um último abraço ou quem nunca nos deu o primeiro?
Alimentemos a distância mas nunca o ódio, alimentemos a separação mas nunca a raiva, alimentemos o perdão embora não esqueçamos. Reconheçamos os erros e as imperfeições e saibamos despertar o nosso coração para a nobreza, a empatia e a bondade, mesmo que na infância estes valores não tenham sido claros e nos tenham magoado.
Olhemos a criança interior. Sabia que todos temos uma voz que representa o nosso ser em idade infantil? Uma espécie de consciência de época que se manteve e cujas lembranças podem ou não representar uma nova percepção?
Hoje, celebremos a fecundidade, a maternidade. O ventre que cria e expulsa, que traz o novo ao destino da morte para nos lembrar que a morte em vida existe e que a morte na vida também.
ilustração do livro Os Espíritos Elementais da Natureza, de Jorge Angel Livraga