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  • Foto do escritorDra. Fátima Santiago

A Caldas o que é de Caldas


Tenho a sorte de trabalhar numa cidade que se tornou vila independente (de Óbidos) exactamente pela criação do primeiro Hospital Termal do mundo, a pedido da Rainha D. Leonor (1458-1525). Este hospital, segundo o regulamento, conhecido por Compromisso da Rainha (1512), define que o hospital acolheria gratuitamente os pobres e desfavorecidos do reino.


Cada vez que faço a viagem para o hospital e cada vez que de lá regresso lembro-me deste pedaço de história, o que faz com que sinta que faço parte de uma causa nobre de há centenas de anos. Caldas é o ''lugar onde há águas termais ou minerais'' e a Rainha benemérita soube, do alto do seu lugar de privilégio, agir para beneficiar quem foi esquecido pela sorte da época.


Este lirismo serve para recordar que o espírito não está só nos seres vivos, mas nas coisas. A aura dos lugares, a alma das coisas e dos lugares também contagia e deve ser preservada. Caldas da Rainha é uma cidade lindíssima, com história e arte. Construir aqui o tão afamado Novo Hospital do Oeste seria honrar a história de Portugal e reconhecer o propósito do Serviço Nacional de Saúde: prestar auxílio a quem precisa. Como a Rainha.

A sociedade não se constrói apenas com base no capital, no investimento e no lucro. As relações institucionais deveriam estar acima das influências e dos interesses. A sociedade deveria ter em conta a historicidade. Quem entra em Caldas da Rainha percebe o que a distingue das outras cidades, a tal aura que outras perderam por ganância e incompetência de quem as não soube governar. É que não se governa para amanhã mas para décadas. As construções e as destruições são carregadas pela alma do lugar, que as descaracterizam ou as protegem. Caldas da Rainha ainda está protegida e é isto que devemos todos saber ver e defender.


Novamente lirismos à parte, todos gostamos da beleza, da bondade e da luz. Uma cidade sem prédios altos, com jardins amplos, com monumentos históricos, com movimento artístico é uma cidade viva e Caldas da Rainha tem nas suas águas essa vida e essa cura.


É uma pena que as acções políticas não sejam tomadas também considerando o património imaterial e a tradição histórica. Se na escola, a disciplina de história fosse mais considerada, certamente teríamos um país mais bonito, cuidado e protegido.

retrato da Rainha D. Leonor: José Malhoa, Portugal, 1926, Óleo sobre tela




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©  2024 por Medicina Integrativa Dra. Fátima Santiago

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