Faria ontem anos o poeta português Al Berto, pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares (1948, Coimbra-1997, Lisboa).
Apesar de ter nascido em Coimbra foi viver para Sines muito novo. Mais tarde viria a estudar em Lisboa, na Escola António Arroios.
Viveu exilado em Bruxelas entre os anos 60 e 70, onde estudou Belas-Artes e foi pintor. Em 1971 decidiu dedicar-se apenas à escrita. Voltou para Portugal em Novembro de 1975, dois anos depois publica o seu primeiro livro em português. Além de poeta foi editor, pintor e animador cultural.
Na sua poesia destacam-se influências das experiências poéticas de Michaux e de Rimbaud. Al Berto traz-nos uma construção poética lírica e de pendor confessional, que oscila entre a comoção e a melancolia, ''entre a subjectividade romântica e a impessoalidade modernista'' (Helder Moura Pereira).
Foi homenageado com o Prémio Pen Club de Poesia pela obra O Medo, em 1988 e a 10 de Junho de 1992, foi feito oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
Em 2017 foi lançado o filme biográfico Al Berto, por Vicente Alves do Ó. Sines dedicou-lhe o nome da sua Escola Secundária.
Termino com um dos seus poemas:
Recado
ouve-me que o dia te seja limpo e a cada esquina de luz possas recolher alimento suficiente para a tua morte
vai até onde ninguém te possa falar ou reconhecer - vai por esse campo de crateras extintas - vai por essa porta de água tão vasta quanto a noite
deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te e as loucas aveias que o ácido enferrujou erguerem-se na vertigem do voo - deixa que o outono traga os pássaros e as abelhas para pernoitarem na doçura do teu breve coração - ouve-me
que o dia te seja limpo e para lá da pele constrói o arco de sal a morada eterna - o mar por onde fugirá o etéreo visitante desta noite
não esqueças o navio carregado de lumes de desejos em poeira - não esqueças o ouro o marfim - os sessenta comprimidos letais ao pequeno-almoço
