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  • Foto do escritorDra. Fátima Santiago

Fogo cruzado

Hoje estamos a viver sobre fogo cruzado, qualquer que seja a nossa profissão, quaisquer que sejam as nossas escolhas pessoais, as nossas decisões, somos alvos mediáticos mesmo que dentro de um pequeno círculo.


A perda de anonimato, de sigilo, de tempo e de espaço ganha contornos assustadores. A comunicação rápida, a resposta ao minuto, as redes sociais com as selfies, os vídeos rápidos e em directo. Perdemos direito ao tempo de descanso depois do trabalho, aliás prescindimos desse direito, graças à internet em todo o lado e às aplicações pelas quais recebemos texto, imagens, vídeos e denunciam a hora a que vimos as mensagens, quando estamos na aplicação (portanto, online) e quando respondemos. Fotografamo-nos no sítio X e Y, aliás a primeira coisa que fazemos quando olhamos para algo é fotografar e olhar para o telemóvel. Estamos a desaprender de viver apenas com os nossos sentidos, parece que sentir, estar e ser não é suficiente e não existe se não partilharmos o que vemos, o que fazemos e o que pensamos. Depois ficamos à espera das reacções, dos gostos e comentários que elevem os níveis de serotonina.


Isto a nível mais particular, já na sociedade assiste-se ao mediatismo de todas as acções políticas, dos comportamentos dos próprios políticos, levando a que o medo paralise a análise crítica, a justiça e a tomada de acção. Julgamos imediatamente qualquer decisão política, qualquer manifestação e intervenção social. Os assuntos são tratados com base na resposta da opinião pública imediata, sem recurso a uma reflexão, ao debate sério e factual.


Passa-se de bestial a besta em segundos e quem não aceita as regras será um excluído e rapidamente esquecido. É a vida rápida, fast living, a acabar com a reflexão moral e ética. Perde-se a noção entre o bem e o mal.

E temendo a incerteza dos próximos tempos, temos o cenário perfeito para o surgimentos dos extremistas, que procuram os descontentes, que alimentam o seu descontentamento com promessas vãs.


Quero acreditar na humanidade, 'A principal tarefa do homem como cidadão do mundo é superar a crise antes que ela se transforme numa catástrofe' - Kai Curry-Lindahl (1917-1990) mas tenho as minhas dúvidas quando continuamos a negar a nossa natureza, a aceitar a existência da morte, a desrespeitar pessoas, animais, a natureza as instituições que nós próprios criámos para nossa protecção e governo.


Noto que caminhamos para um pseudo estetização da vida, para a futilidade das emoções e uma certa idealização da vida terrena. Enquanto falar em espírito for considerado esotérico e pedante continuaremos a ser uma sociedade de primatas com mais estilo e mais tecnologia mas sem consciência da barbárie e selvajaria que comete e que sofre.


ilustração: Maurits Cornelis Escher




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©  2024 por Medicina Integrativa Dra. Fátima Santiago

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