Jacqueline du Pré personificou a música com o seu próprio corpo, na medida em que já nasceu Música. Uma genialidade tão forte que ultrapassava a compreensão humana e que só poderia ser explicada em termos espirituais.
Durante a sua curtíssima vida, notabilizou-se mais no violoncelo.
Desde criança que a facilidade e a alegria com que interpretava a complexa linguagem musical fascinaram o mundo, um talento que parecia transcender mas circular nas suas próprias células e que permitia uma simbiose perfeita com o violoncelo, com o piano ou até com o violino.
Quem dela fala não a compara com nenhuma outroa (outro) performer. Simplesmente acontecia magia na espantosa facilidade com que exprimia a música, muitas vezes sem ensaios cansativos, tudo nela fluía com facilidade, como se ela própria respirasse em notas musicais. Além do seu talento, a sua conduta, a postura, a sua personalidade e até a sua aparência, jovial e sorridente predestinavam uma criatura invulgar e especial. Foi impossível compará-la ou categorizá-la.
E parece que os anjos vivem pouco aqui na terra. Viveu entre 1945 e 1987, tendo começado a aprender com a sua mãe, Iris du Pré que entre outras profissões era concertista. Aos 5 anos começa a estuda na Escola de Violoncelo de Londres e vence um concurso de música. Teve como professores Paul Tortelier, em Paris, Rostropovich, na Rússia, e Casals na Suíça. A primeira vez que actuou foi com a Orquestra da BBC, seguindo-se depois uma carreira de actuações brilhantes nas salas mais importantes do mundo e com as melhores orquestras.
Recebeu o primeiro prémio aos dez anos e ao longo da sua carreira recebeu várias distinções importantes: Medalha de Ouro e o Queen's Prize for British Musicians para instrumentistas com menos de trinta anos, doutoramento Honoris Causa de várias universidades, e foi-lhe atribuído a Ordem do Império Britânico (OBE).
Infelizmente a carreira de Jacqueline du Pré foi curta devido à esclerose múltipla diagnosticada no início dos anos 70, quando tinha 28 anos, obrigando-a com uma das mais cruéis das atrofias musculares a parar de actuar e a dedicar-se ao ensino. Morreu com 42 anos.
Dá que pensar, tudo lhe foi dado durante um curto espaço de tempo, depois tudo lhe foi tirado, aparentemente.
Mas ela nada perdeu, pois tinha aceite o contrato e foi feliz e fez feliz quem com ela privou e dela recebeu alegrias imensas.
Jacqueline du Pré foi casada com o pianista Daniel Barenboim, com quem tinha uma afinidade musical que nada tinha que ver com a relação amorosa. Recordo o texto sobre o pianista aqui Veja um documentário sobre a excepcionalidade de Jacqueline du Pré aqui