Estará o jornalismo, o bom jornalismo que é isento de qualquer ardil económico e de qualquer interesse político a desaparecer?
Como se informa actualmente? Pelas redes sociais, jornais, livros de não ficção, pelos longos telejornais ou fora do circuito massivo, procurando podcasts, blogues (ainda existem bloques, sim) e artigos académicos?
Depois de responder a esta questão, pense novamente.
Hoje, graças à democratização da internet, não só em termos de custo de acesso, como de criação e utilização, qualquer pessoa pode emitir opinião, através das várias redes sociais, blogues, sites e plataformas existentes de escrita, vídeo e áudio.
Entretanto, o jornalismo rendeu-se à urgência deste consumismo de informação e o jornalismo tornou-se uma profissão pouco especializada e de secretária. As inúmeras plataformas de livre acesso trouxeram os conceitos de 'informação verificada' e 'notícias falsas' para o quotidiano.
As mesmas notícias, escritas da mesma forma, são replicadas de forma superficial por vários meios, sem haver investigação rigorosa e isenta. Veja-se o que aconteceu há pouco tempo quando a mesma notícia que identificava uma deputada como 'preta' foi emitida pela Lusa e replicada em vários meios (mas ninguém leu aquilo?). Nos debates televisivos entre os candidatos à presidência da república, este ano de 2021, nem os jornalistas, supostos moderadores, conseguiram ser isentos e colocar ordem em discussões pessoais, de chacota e lodaçal. Falou-se de tudo e muito pouco do país. Os telejornais passaram a ter a duração de 1h30, com excepção da RTP 2 que penso continuar conciso. Vemos tópicos no telejornal que em nada se parecem com informação apropriada, como uma actriz que tem mais de 1 milhão de seguidores no instagram ou uma apresentadora que passa a trabalhar noutra estação televisiva ou a saída de um treinador de futebol de um avião.
Onde está a Ética?
No jornalismo, na informação, nos comportamentos?
Uma ética ecológica profunda é indispensável neste mundo em que vivemos encadeados pela velocidade supersónica da tragédia em tempo real: a Ciência tem de actuar no sentido de promover a vida não de tratar catástrofes. Com o imperativo económico a governar, as armas, a inquinação ambiental, a destruição planeada dos ecossistemas é permitida e promovida pela política global. O que fazem os jornalistas?
Entretanto, a televisão demite-se do seu papel de protagonista para surfar a onda do voyeurismo, que enjoa uns e vicia outros.
Constato que quem procura estar realmente informado, tem de procurar na literatura de não ficção o que jornalistas e sociólogos escrevem, para compreender o mundo e os factos. A meu ver o bom jornalismo dá-nos os dois lados da história, conta-nos a perspectiva da vítima e do agressor, de quem é atacado e de quem ataca, fala com ambos e mostra-nos ambos. Essa é a meu ver a maior tarefas do jornalista, estar preparado para ir, querer descobrir e conseguir mostrar os dois lados.
A opinião pública agora mede-se pelos gostos e comentários, sem a mínima noção do que é verdade. O tempo do bom jornalismo não tem o ritmo das redes sociais, tal como a justiça também não tem o ritmo do jornalismo.
Portanto, antes de escolher um lado procure bem, leia mais, evite o sensacionalismo e o voyeurismo e desconfie sempre do que a massa defende. Algures entre o que todos dizem e ninguém lhe conta está a verdade.
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