Ontem, a propósito da percepção, falei de uma lenda chinesa que nos ajuda a perspectivar a realidade, a aceitar as acções e atitudes do passado e a trazer tranquilidade e aceitação ao presente. Não se trata aqui de viver a vida com inércia, sem reacção, mas escolher o lugar da aceitação, o equilíbrio e o bem-estar emocional.
Uma dia o filho de um agricultor deixou o único cavalo da família fugir. Quando a notícia se espalhou os vizinhos foram até à casa do agricultor manifestar a sua solidariedade e dizer que era uma grande desgraça ter ficado sem o único animal para ajudar no trabalho do campo. A isto o agricultor respondeu: 'talvez'.
No dia seguinte o cavalo não só voltou como trouxe sete cavalos selvagens com ele. Desta forma, o agricultor tornou-se o homem mais rico da aldeia. E os vizinhos vieram parabenizá-lo dizendo que era uma grande sorte. Ao que o agricultor respondeu: 'talvez'.
No dia seguinte o filho do agricultor partiu a perna enquanto tentava domar os cavalos selvagens. Com a chegada do Inverno seria difícil para o agricultor cuidar dos campos sem a ajuda do filho. Os vizinhos foram visitar o jovem e falaram com amargura ao agricultor, dizendo que era uma grande tristeza o que tinha acontecido. O agricultor respondeu: 'talvez'.
No dia seguinte o exército foi à aldeia recrutar jovens saudáveis para combater numa guerra impossível de vencer. O filho do agricultor não foi levado porque estava com a perna partida. Os vizinhos foram até à casa do agricultor e disseram-lhe que tinha tido uma grande sorte já que os seus filhos foram levados e o dele não. O agricultor respondeu apenas: 'talvez'.
Esta lenda chinesa não representa apenas a história de um homem que a cada situação reage com tranquilidade mas exemplifica o encadeamento das situações da nossa vida e de como a percepção sobre o que é má sorte ou boa sorte pode ser tão relativa.
Nunca sabemos se um acontecimento é realmente mau ou bom, porque nunca sabemos qual será o seu impacto no futuro. Portanto, a sabedoria deveria levar-nos a agir com mais calma perante qualquer situação, sem exaltação de felicidade ou de pessimismo. Afinal o caminho continuará a fazer-se, com felicidade ou com desilusão. Portanto, encontremos um lugar de paz e de aceitação.
