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  • Foto do escritorDra. Fátima Santiago

No hospital


O hospital é um lugar que nos coloca no devido lugar. Digo isto porque aqui, onde trabalho, contacto diariamente com o estado mais lastimoso a que o nosso corpo pode chegar e para minha estabilidade tenho de criar uma barreira entre mim e a dor, a que sinto e a que vejo nos outros. Outras profissões terão os seus desafios, mas só os profissionais de saúde, os cuidadores (informais e profissionais) e todos os técnicos hospitalares vêem com seus próprios olhos a que ponto podemos chegar, muitas vezes unicamente por desleixo, outras vezes por ignorância e outras por teimosia.


Recorde-se que quando ficar doente serão pessoas que não conhece que cuidarão de si, pessoas que independentemente da dedicação à sua profissão, têm os seus problemas pessoais, desilusões, amarguras e sofrimentos. Por toda a boa vontade do mundo nem sempre é possível encontrar a força anímica para lidar diariamente com a dor, o sofrimento e a morte. A única solução até agora encontrada por mim é o distanciamento, ainda que fraudulento, porque é um distanciamento forçado mas necessário para minha protecção e bem-estar. Pode ser confundido com frieza mas é apenas uma ferramenta de trabalho.


Nós, os profissionais de saúde e cuidadores não podemos nem devemos ficar doentes. Quando isso acontece sentimos que falhámos e que estamos a ocupar o lugar que não é o nosso, mas de um paciente, e a faltar a um lugar que é o nosso, o de cuidador.

E por isto e por muito mais, as miúdezas do quotidiano e a falta de carácter são pormenores para mim. Já aprendi a relativizar até a pequenez de espírito e os desafios aparentemente insolúveis do dia-a-dia, os quais mais não são do que prova que estamos vivos e que o trabalho não é tudo, mesmo que por missão seja o bem de muitos.

Não se comparam pedras a uma grande montanha. Quando a vemos, quando a pisamos, esquecemos todas as pedras à nossa volta.




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