Esta fotografia não precisaria de palavras mas, ainda assim, se existe é porque as palavras e as fotografias não são suficientes. Precisamos de movimentos cívicos mais organizados e realmente dirigidos a causas comuns e urgentes. As cidades, esses poços de betão e poluição, estão a morrer parecendo que crescem. Não tardará que ouçamos pessoas clamar pelo calor abrasador causado pelo trânsito, poluição e ausência de vegetação.
As pessoas que querem jardins muitos organizados, sem bichos a chatear, com vegetação ordenada e simétrica, sem árvores a ocupar os lugares de estacionamento e a sujar os carros, são as mesmas que acham que o calor está insuportável e que a mudança climática é a causa disto tudo. A mudança climática acontece também porque permitimos que a natureza seja exclusiva de florestas que visitamos uma vez por ano e de parques que têm cafés para irmos ao Domingo. É que só de férias é que a natureza não chateia, mas de preferência lá na província. Na cidade queremos espaços para carros e para casas de três andares com piscina.
É urgente que se mude a importância da conservação da natureza também em espaço público. É urgente que não seja legítimo cortar árvores sem justificação, pulverizar com pesticidas as ervas à beira das estradas. É urgente que, enquanto cidadãos, sejamos responsáveis pela conservação de todas as espécies de fauna e de flora e que passemos a olhar para a natureza com respeito e não como incómodo à nossa vidinha urbana. Se as árvores existem, se os animais existem e se nós existimos é porque somos uma sinergia que só funciona em comunhão, nunca em divisão nem primazia de um em relação ao outro.
Quando começaremos a respeitar a natureza sem sermos conotados negativamente como lirícos e hippies?
foto: Luiz Bhering
