O vínculo entre pais e filhos é o mais forte que existe, a par com o vínculo entre irmãos. Dificilmente qualquer outra relação de sangue, de afinidade ou de amor superam este vínculo que está acima das emoções humanas e espirituais. Isto não significa que este vínculo seja o mais enriquecedor e pleno, antes pelo contrário, quase sempre é o mais desafiante porque se estende até ao fim da vida, porque implica uma relação entre gerações distintas e porque tem uma energia que ultrapassa as emoções humanas e o plano material.
Infelizmente muitas vezes para bem-estar dos envolvidos, há a necessidade de não relação, de afastamento. Normalmente é com afastamento que, emoções à parte, se digere a informação de forma mais mental e clara. Este afastamento também pode ser profícuo para se fazer o devido distanciamento entre o passado e o presente e verificar-se que as mudanças e a evolução são naturais e acontecem quando há consciência da sua necessidade. E estamos todos aqui para aprender com os desafios e evoluir.
Apesar da minha experiência como médica e dos anos de serviço, fico sempre consternada com situações destas que apenas são perdoadas e sanadas à hora da morte. Será que é assim que deve ser? Será que devemos lutar contra a vida e só baixar os braços à hora da morte? Não creio, creio que reconhecendo o erro e mudando, devemos fazer tudo ao nosso alcance para alcançar a paz, até termos esse espaço e vontade do outro lado. Unilateralmente as relações não se conciliam, é preciso haver vontade e compreensão de ambos os lados.
Se está numa destas situações não espere pela hora da morte e tente encontrar concilio, mesmo que precise de viver de forma mais afastada e ausente diariamente. A hora da morte é muito curta para sentir a energia do perdão e da paz, perdoar e ser perdoado. Faça em vida o que gostaria de ter feito à hora da morte. O ser humano tem o grande poder da imaginação portanto, será fácil para todos os que me lêem compreenderem o que gostaria de fazer e de dizer quando ainda há tempo.
