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  • Foto do escritorDra. Fátima Santiago

Saber viver também é saber deixar morrer, deixar partir

No meu trabalho assisto diariamente a situações muito penosas e dolorosas. Muitas vezes não são os pacientes em fim de vida que mais sofrem mas os seus familiares que por motivos vários têm dificuldade ou mesmo recusa em aceitar a morte do seu ente querido. Em situações de morte súbita, o choque dos familiares pode ser muito impactante. As pessoas não estão preparadas e por mais que saibamos da inevitabilidade da morte, não estamos a pensar na sua possibilidade a cada instante, não nos despedimos diariamente das pessoas como se nunca mais as víssemos. Em situação de aparente normalidade contamos sempre ver a pessoa mais tarde, com saúde. Neste caso os familiares deveriam ter acompanhamento psicológico de forma a integrarem o inesperado sucedido com tempo e espaço de escuta e de acompanhamento.

Além da morte súbita, as chamadas 'melhoras da morte' em caso de doença terminal ou prolongada iludem os familiares com esperanças de reversão de uma situação que se considerava fatal. As 'melhoras da morte' representam uma melhoria inexplicável do estado da pessoa doente, dando-lhe brilho e energia. Ora espiritualmente isto representa a despedida da alma, para descansar os que ficam e prepara quem parte. O espírito é sábio e sabe que se prepara para sair do corpo, da mesma forma que o corpo da grávida pode ter contracções muitas horas antes do bebé nascer.

Em situações de doença prolongada é importante que os familiares tenham consciência do seu papel tranquilizante e apaziguador e que permitam que a pessoa doente parta em paz e em amor. Aceitar e integrar a partida é amar sem egoísmo e saber gerir o apego. Aquela vida não se perdeu, viveu e cumpriu o seu destino, mesmo que segundo as nossas concepções tenha sido cedo demais ou antes do tempo. A saudade e a memória recordam-nos da vida e essa é a tarefa dos que ficam, continuar a amar, aceitar a partida e celebrar a vida que pôde existir.




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©  2024 por Medicina Integrativa Dra. Fátima Santiago

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