Clarice Lispector (1920-1977) é um dos grandes nomes da literatura brasileira do século XX. Nasceu a oeste da Ucrânia numa família judia que fora viver para o Brasil para fugir à perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa.
Começou a ler e a escrever muito cedo. Em 1940 publica o primeiro conto ''O Triunfo''. No final de 1943 publica o conto que a tornaria conhecida Perto do Coração Selvagem, que retrata uma visão interiorizada do mundo da adolescência e que abriu uma nova tendência na literatura brasileira e que recebeu o Prémio Graça Aranha. Em 1944 formou-se em Direito na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, na qual existiam apenas três mulheres e nenhum judeu.
Clarice tem a particularidade de ter escrito durante toda a sua vida, não sucumbido ao suicídio, muito comum em mulheres artistas excepcionais, nem aos afazeres da maternidade, já que tendo os luxos da vida burguesa tinha quem a ajudasse de forma a poder dedicar três horas por dia à solidão e ao silêncio da escrita. O marido era diplomata o que fez com que vivessem fora do Brasil durante muitos anos.
A temática dos seus contos rompeu com a tradição da literatura brasileira de abordar questões sociais e regionais. Em Clarice as personagens são o mote para revelar dramas psicológicos e realidades ocultas. O seu estilo de mutabilidade, de quebra de sequência de começo, meio e fim, assim como de ordem cronológica, e de mistura entre a prosa e a poesia, trouxeram novidade e originalidade à literatura brasileira. A experimentação de estilos de Clarice fez com que não só a sua obra mas também ela fosse alvo de curiosidade e adoração. O mito ao redor dela cresceu após a sua morte, fazendo com que uma aura de genialidade rodeasse não só a sua obra mas a própria personalidade da autora.
''Renda-se como eu me rendi. mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.''
Clarice Lispector
